sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Linguagem e evolução.

Somos os únicos animais que desenvolveram uma linguagem complexa. Somos, principalmente por isso, considerados a ponta máxima da árvore evolutiva, apesar de ainda não sabermos exatamente quando ou por qual razão desenvolvemos essa característica.
Em compensação, exatamente por essa linguagem, somos os únicos que problematizam a existência e entram num sem-fim de questões angustiantes e sem resposta sobre a razão de estarmos aqui e de sermos como somos. Somos os únicos que, tendo esse tipo tão específico de linguagem, vivem agoniados a procurar alguém de outra espécie com quem possamos nos comunicar - talvez por solidão, ou talvez por prepotência em querer confirmar nossa superioridade, devido à exclusividade dessa característica.
Eu não tinha pensado por esse lado, até fazer um seminário sobre isso e o docente responsável fazer um comentário mais ou menos assim. E nem cheguei a pensar tanto quanto deveria, pois ainda não fiz a lição de casa de pesquisar o que já existe sobre isso, mas achei válido anotar esse pensamento por aqui, pra que não se perca em algum papel por aí.

Talvez tenhamos desenvolvido a linguagem como um meio de externar nossas angústias e uma maneira de saber se mais algum bicho por aí tem sentimentos como os nossos. O que me leva a lembrar de Wittgeinstein e o problema (muito interessante) da linguagem privada. Mas esse é outro papo, de outra questão, com outras resoluções não concretas, rs. Language is great.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Jellyfish and passion.







Passion is like a jellyfish: it's beautiful, powerful and it can hurt you to death.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes , maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende."

Pessoa, como tem sido.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Pessoando.

"Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais."

(Livro do Desassossego)

Cada ideia um gozo cerebral. Desculpa, Pessoa, talvez você não quisesse ter a sensação causada pelas suas palavras comparada à sensação de orgasmo, mas entenda isso como a expressão máxima do prazer - um prazer que alcança até um aspecto divino (preciso ler algo sobre isso) -, rs, já que estamos falando de divindades e adoração -, então não se ofenda. We should hang out, anytime.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Supermassive Black Hole

Sometimes I think I'm full of holes.
Knowledge holes, emotional holes, memory holes (perhaps I should use gaps instead of holes, but I don't want to and I don't care, rs. Language is freedom - or not, but I have no intention to start this wonderful discussion right now, rs)...
Now, if I'm full of holes, how can I be a whole person?
In the middle of all of these holes, there is a big black hole called exhaustion. All of my holes, that are part of my whole person (dammit, this text is just getting worse and worse, rs), are being sucked into the black hole. A beautiful supermassive black hole.

Shit.
Soçobrar.

Qual é a sensação?

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Imagine.

Exitem coisas que não podem ser realizadas parcialmente. Por exemplo, se queres construir uma casa, não podes fazer pela metade a estrutura que a sustenta. Não é preciso entender de obras para saber que, se a obra assim for feita, muito provavelmente alguma parte da casa estará comprometida e ruirá a qualquer momento, e todo o trabalho feito até então terá sido em vão. Acredito que até aqui estamos todos de acordo, certo? Então sigamos.
A respeito da educação, eu penso a mesma coisa. Não dá para esperar que um aluno seja bom e educado se ele não foi estruturado para tal. Não importa quantas aulas, não importa quantas atividades e reforços, reuniões e chamadas de atenção: se não há estrutura, não adianta querer completar o telhado. E a estrutura aqui é formada tanto pela família quanto pela escola.
Mas aí surgem várias questões e, entre elas, uma das mais cruciais é: qual é o papel de cada pessoa/instituição no processo educativo de um cidadão? Os pais devem fazer todo o trabalho com relação à questões básicas como respeito, bons modos? O professor deve restringir-se à matéria a qual leciona? É complicado.
Particularmente, acredito que a configuração em que a sociedade se encontra - muita informação o tempo todo, o que pode fugir ao controle dos pais; crianças permanecendo na escola em tempo integral; pais ausentes por excesso de trabalho (os eventuais casos de futilidade ou aborto opcional - metaforicamente falando, é claro - eu prefiro ignorar) e inúmeros outros aspectos -, tem tornado as linhas que estabelecem os limites entre esses papéis cada vez mais tênues.
Mas antes que possa ser mal compreendida, esclareço: não estou aqui dizendo que os professores devem tomar para si o papel de pais e simplesmente fazerem todo o trabalho de educação dos filhos alheios por conta própria. Não é isso. O que quero dizer é que existem questões que surgem em sala de aula que, na minha concepção, não podem ser ignoradas quando ocorrem ou, pelo menos, eu, mesmo sendo "apenas a professora de língua estrangeira", não consigo ignorar, pois tocam em um aspecto muito maior do que a mera educação curricular: tocam na humanidade.
Não consigo, por exemplo, ver o surgimento da questão de gênero e papel social quando alguma criança diz que "rosa é cor de menina" e não falar nada. Não é o caso de dar uma aula sobre sobre isso, mas é o caso de dizer que rosa é só mais uma cor, como todas as outras, e que qualquer um pode usar a cor que quiser, pois não há problema nenhum nisso. Faz parte da matéria que ensino? Não. Faz parte da educação? Sim. Não é nada, não é muito esforço e talvez nem mude a ideia da criança, mas é uma tentativa e, para a minha consciência, já é alguma coisa.
Sei que não dá para intervir em todas as situações, sei que não dá para esperar que o mundo mude com um comentário, e sei também que às vezes cansa - e muito - , mas acho necessário. Não dá para esperar que um garoto mais velho não chame o outro de "viadinho" porque está vestindo uma camisa rosa se, na outra oportunidade que tive, eu nem tiver tentado dizer que rosa não é um problema - ser "viado" também não, mas se dizer que rosa não é um problema já pode causar uma situação complicada com os pais (é, pois é, pode), imagine dizer algo sobre orientação sexual, rs, então aí pedimos ajuda.
No fim, tudo isso é pra dizer que eu tento, e acho que não custa todo mundo tentar. E acredito que se ainda há uma esperança de uma sociedade minimamente melhor, escola e pais precisam trabalhar juntos sim, inclusive quando questões de gênero, machismo e sexualidade surgem, pois tudo isso está dentro de uma coisa muito maior, que é o respeito. Ainda tenho essa esperança, acho, e vou tentar não me tornar mais uma do grupo dos que desistem de tentar.



"You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one". Apelei mesmo, rs, guilt-free.