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sexta-feira, 6 de maio de 2011

E assim foi o romance (ou Capítulo II)

A luz das 5:40 da manhã penetrava preguiçosamente a cortina do quarto. Ninna abriu os olhos, vagarosamente. Giullia estava no outro extremo da cama, dormindo, angelical como de costume. Ninna observou-a por alguns minutos, imóvel.
Resolveu então levantar-se. Leve, andou sobre o carpete de madeira sem fazer barulho, até alcançar o armário, ao lado do qual deixara sua pasta quando chegara, na noite passada. Tirou o bloco de papel canson, os três lápis que usava para desenhar e sentou-se no chão, ao lado da cama, encostando-se na parede que a deixava de frente para o rosto de Giullia.
Traçava cada linha com delicadeza, como se estivesse tocando a modelo que, no meio do traçar, despertou, abrindo minimamente os olhos azuis elétricos.

- O que você está fazendo? - perguntou Giullia, a fala enrolada, quase um resmungo.
- Você. - respondeu Ninna, sem parar de desenhar.
- Mas eu não sou modelo, sou velha, estou inchada e fui pega desarmada. - fez menção de mexer os braços.
- Não se mexa, me dê mais um minuto. E quem disse que precisa ser modelo para ser desenhada? Você não é velha, não está inchada e eu não queria que se armasse, de qualquer maneira.
- Mas modelos são mais bonitas.
- Pare de bobagem. Pode se mexer um pouco agora, e depois sente de costas para mim. - Ninna falou suavemente, contrariando o conjunto de palavras imperativas.
- Não sei porque ainda te deixo me desenhar. - resmungou Giullia, fingindo irritação e enrolando-se no lençol ao sentar.
- Porque você gosta de saber como eu te vejo. Tire o lençol.

Giullia não tinha resposta - a afirmação era verdadeira. Rendeu-se, tirando o lençol.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

E assim foi o fim.

O sol nascia lentamente. Um raio pálido entrava pelo canto da janela que a cortina não cobria, pois não fora puxada até o fim - Giullia fora puxada antes de terminar a ação.
O raio invasor iluminava seus cabelos louros e cacheados, criando ao redor deles uma aura quase angelical.
A pele, branquíssima, refletia a luz, que competia em palidez. Sua boca estava ligeiramente aberta, e indicaria um sono tranqüilo, não fosse o filete de sangue que escorria dela e manchava o lençol branco, agora já seco. O vermelho que ali ficou contrastava com o azul elétrico dos seus olhos, abertos e vidrados - outro indício de que ela já não dormia.
Já não respirava mais havia três horas, agora que o relógio marcava 5:40 da manhã.
Exceto pelo fato de que Giullia estava morta, tudo no apartamento parecia normal. Na escrivaninha, apenas um bilhete com duas palavras - "ela mereceu" - e um batom vermelho, servindo de peso para o papel.