sábado, 19 de fevereiro de 2011

Falar e Calar.

- Eu queria te falar...
- Falar o que?
- Falar que eu quero falar.
- Mas qual é o assunto?
- Não tenho um na cabeça agora, mas eu queria falar.
- Mas como você quer falar se não tem um assunto pra falar?
- Querendo.
- Querendo o que?
- Querendo falar, .
- Mas querendo falar o que?
- Essa é a pergunta errada...
- E tem pergunta certa?
- Claro que tem!
- Não sabia que existia pergunta certa a fazer pra gente que não sabe o que quer falar...
- Sempre tem uma pergunta certa. Na verdade, nem precisa ser pergunta. Só uma coisa qualquer que seja certa pra falar.
- Mas como é que a outra pessoa vai saber qual é a coisa certa pra falar, se nem você sabe o que quer falar?
- Não vai.
- Não vai o que?
- Saber.

Silêncio

- A pergunta certa é: "por quê?"
- Por que o que?
- "Por que você quer falar?"
- Mas eu não quero, é você que quer!
- Eu sei! Pergunta pra mim.
- Tá bom. Por que você quer falar?
- Pra não ficar em silêncio...
- E por que você não quer ficar em silêncio?
- Tenho medo.
- Medo do silêncio? Por quê?
- Porque o silêncio pode significar que a gente não tem mais nada pra falar um pro outro, e que isso já pode terminar aqui.
- Cala a boca.
- Mas você quer que isso termine aqui?
- Eu te amo.


Silêncio.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

50 Anos A Mil


O livro autobiográfico do baterista, cantor e compositor - além de muito mais - João Luiz Woerdenbag Filho, também conhecido como Lobão, é obrigatório para qualquer um que goste de saber sobre a história da música brasileira.
É incrível observar os encontros musicais que permearam a vida dessa criatura, e que promoveram maravilhosas parcerias - Lulu Santos, Marina Lima, Júlio Barroso, Nelson Motta, entre muitos outros - que ocorriam de forma até inesperada, bem "hey, quebra o galho, sem baterista, toca lá pra mim?".
Isso sem falar da beleza que é ver um menino tão tímido - que tinha vergonha até de pedir a permissão da professora para ir ao banheiro - crescer e botar a boca no trombone, falando tudo o que pensa sem medo de ser contrariado.
É uma história cheia de problemas familiares - e outros puramente individuais -, com passagens pelas drogas e pela prisão que, muitas vezes, deram pano pra imprensa criar a caricatura de um lobo mau que na verdade não se limita a essa caracterização.
Quem, como eu, gosta de rock brasileiro e se envergonha dessas bandinhas fuleiras que estão no cenário musical de agora, deve ler a história do ícone da música independente e da briga contra os jabás nas rádios desse país. Roquenrou!

P.S.: as partes escritas por ele estão completamente em sua própria linguagem que, por sinal, é cheia de reticências, =D.
P.S.S.: as outras partes são escritas pelo jornalista Claudio Tognolli, falando sobre as matérias que saíram sobre o Lobão nas épocas contadas, para fundamentar a história.



Considerações finais: faltou uma boa edição na parte das entrevistas e uma melhoradinha na escrita dele também, e isso não iria interferir no seu modo peculiar de se expressar. Por outro lado, ele consegue passar uma imagem bem menos arrogante do que a gente costuma ver em entrevistas na televisão.
Por fim, uma coisa é fato: Lobão é foda. Não importa que nunca tenha sido um grande vendedor de discos. Ele é um vencedor.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Precisar e Descartar

"Se, ao menos, na hora de ela me deixar, precisasse um pouco mais de mim." (Lobão - Pra Onde Você Vai)

Essa frase me fez pensar em algo: será que só ficamos em torno das pessoas - pessoas, porque com relação aos objetos isso é muito óbvio - enquanto precisamos delas?
Não entendam errado: o precisar pode ser relacionado a qualquer coisa, principalmente à amizade, ao afeto. Claro, muitos podem dizer que, se depois de um tempo você "enjoa" ou "cansa" da amizade, é porque não era verdadeira. Mas será que é esse o ponto?
Porque todo mundo precisa de um tempo sozinho - e se você não precisa, já está fora da minha limitada compreensão -, e depois vem a necessidade de conversar - quando vem. Só que não se fala sobre tudo com absolutamente todos. São amigos e amigos, uns mais compreensivos - e compreensíveis - e outros menos, e aí os assuntos são escolhidos - conscientemente ou não - de acordo com cada um. E não é pecado ninguém saber de tudo - estou me tornando repetitiva, já falei disso.
É óbvio também que, em outros casos, como os relacionamentos com simples colegas, essa fórmula de "não precisar mais + falta de aproximação maior = descarte" - ok, descarte foi cruel - é mais fácil de pensar.
Será que quando uma amizade, ou algum outro tipo de relacionamento, não "funciona" mais pra nós - pelo menos naquele momento -, simplesmente saímos andando assim, sem nem pensar no outro? Tendo (muito) a pensar que sim.

É, seres humanos são cruéis.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(Não) É Pra Já.

Existem coisas que não podem ser resolvidas de uma hora pra outra.
Por exemplo, a minha falta de inspiração - e vontade, é verdade - para escrever aqui nos últimos tempos. Um texto não simplesmente pula no meu cérebro e vem pronto para ser publicado.
Distâncias também não se resolvem do nada. Não é porque existe o avião que a todo tempo podemos pegar um. Precisamos do dinheiro para comprar a passagem, do transporte para chegar ao aeroporto - e a gasolina -, e de um lugar pra ficar na chegada.
Conversas não podem ser realizadas a todo o tempo. Dependendo de qual assunto seja, a internet e seus programas não são meios ideais para resolvê-lo.
Tudo leva tempo, cálculo. O que será dito deve ser pensado com calma, para que desastres - ou apenas desentendimentos, falhas na comunicação - não ocorram. Não, não é que conversas espontâneas não existam, mas é que estou falando de coisas mais sérias.
A minha falta de comunicação, o meu fechamento - já reclamado por muitos, várias vezes - também não é algo que possa resolvido só porque todos - e, eventualmente, eu também - querem. Existem coisas que não desejam - sim, as coisas/assuntos não desejam, não apenas eu - e não precisam ser compartilhadas. E ponto. Ninguém precisa saber de tudo, e é esse o problema: todo mundo quer saber de tudo. E não é assim que funciona.
Mas às vezes se quer tanto resolver um assunto, daqueles que não devem - e não merecem - ser falados pela internet, mas o diabo da distância impede que seja falado pessoalmente. E aí o que se pode fazer? Esperar. Esperar até aquele(a) seu(sua) amigo(a) retorne para que possa te ajudar. Ou que você vá até lá, pra falar um monte de besteiras.
E no final das contas, não importa. As conversas podem não sair como eram esperadas.


P.S.: e pra quem ficou com a impressão, eu não sou fria e calculista, relaxe. =)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dying Changes Everything

É incrível observar como o comportamento das pessoas com relação umas às outras começa a mudar quando a questão "morte" começa aparecer.
Por exemplo, quando se descobre que determinada pessoa da sua família, que nem é próxima de você, tem alguma doença como o câncer. Inicia-se uma repentina preocupação, um tal de "nossa, mas eu preciso falar com ela(e), porque ela(e) pode morrer e eu nem dei atenção.
Um monte de besteira, na minha opinião, porque aqui não existe absolutamente nada de altruísta, é uma bobagem egoísta, porque pretende livrar um sentimento de culpa que surge pela constatação de que, a vida inteira, você não deu bola pra alguém que hoje pode morrer.
Se duvidar, as pessoas param até de falar mal do moribundo, porque se torna "feio".
Quanta bobagem! Se a indiferença foi sempre sincera, por que mudar no último instante para uma preocupação fingida?

Às vezes nem é necessário que determinada criatura esteja doente, basta que esteja envelhecendo. "E se morrer e a última coisa que eu fiz com ela(e) foi brigar?", é o que aparece na mente. E aí deixamos a briga pra lá, novamente sendo egoístas, evitando um possível futuro sentimento de culpa.

Seria isso o resultado de todas aquelas questões pregadas sobre reencarnação, por exemplo? De ter que voltar continuamente enquanto houver uma questão não resolvida - não que uma briga vá fazer você voltar, eu acho -? Ou mesmo no Antigo Egito, onde acreditava-se que o coração - considerado a sede da consciência e onde pesariam as boas e más ações - seria pesado por Anúbis em uma balança com uma pena como contra peso, e tendo que ser o coração mais leve do que a mesma para que a alma pudesse ir para o paraíso?
Essa necessidade de altruísmo fingido seria resultado de todas essas crenças? Provavelmente.

Outra coisa que ocorre é a santificação de pessoas que já morreram. Parece que depois que determinada pessoa sai do meio de convivência, percebe-se que ela era, na verdade, uma criatura muito boa, sem defeitos, pura maravilha.

É porque falar mal de morto é feio, ?







P.S.: só estou falando sobre isso porque tenho visto muitas séries, ok? Não está acontecendo nada.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Homem Cordial na Universidade

Entre os diversos textos e livros com os quais precisei ter contato esse ano, destaca-se o chamado Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda - sim, o pai do amado Chico. O capítulo destacado para a leitura a ser feita por nós alunos foi "O Homem Cordial".
Não pensem que "cordial" aqui é um elogio, no sentido de "afetuoso, franco e sincero" (Dicionário Michaelis), mas sim uma espécie de ironia, um desprezo por ser algo "relativo ao coração".

Esclareço-me: o homem cordial seria aquele que relaciona qualquer atividade da vida - principalmente a profissional - ao coração. É aquele que carrega uma grande carga dos valores familiares, a ponto de não conseguir distinguir as relações profissionais de um modo que possa fazer parte de uma rede eficiente de produção. Vou exemplificar melhor: é aquele que não consegue ao menos competir com seu colega de trabalho por um determinado cargo, justamente por ele ser seu colega e por essa concorrência ser, de certa forma, contrária aos valores familiares. Não quero dizer que os colegas tenham que lutar até a morte para se sobressaírem aos outros, mas eles precisam fazer o seu melhor para chegar a algum lugar, mesmo que isso signifique que nem todos os colegas alcançarão o mesmo cargo.
Nesse mesmo capítulo, fala-se da existente necessidade, que algumas pessoas têm, de criar laços de amizade juntamente com as relações comerciais: o vendedor transforma, muitas vezes, seu freguês em amigo, assim como o freguês escolhe o vendedor com o qual mais simpatiza para comprar algo.

O ruim do homem cordial não seria então seu conjunto de boas maneiras, sua franqueza e sua sinceridade, mas sim a mania de dar um tom emotivo a todas as suas relações - principalmente as que não são familiares.

Na época em que lemos esse texto, foi pedido que analisássemos o homem cordial na universidade, o que, no caso, corresponderia às nossas relações com os colegas.
É nesse ponto que começo a analisar os trabalhos em grupo, aqueles tão famosos pela existência de uma espécie de padrão quase unânime e freqüente: uma parte do grupo faz o trabalho, enquanto a outra se encosta (é mentira?).

Por que nos sujeitamos a carregar aqueles 2 ou 3 - quando não mais - que em nada acrescentam no trabalho? Vejo aqui duas possibilidades: ou os ditos "encostados" são amigos nossos, aos quais não queremos prejudicar - em questão de nota, porque o aprendizado não pode ser feito por osmose só porque queremos ajudá-los -, ou existe um medo de criar um ambiente um tanto hostil para conviver com essas criaturas pelos próximos anos do curso, no caso de falarmos todas as verdades.

Para acabar com esse homem cordial, é lógico o que deve ser feito: os encostos não devem ser tolerados e cada um deve trabalhar como pode ou mesmo como lhe é designado fazer. Mas existe esse medo da hostilidade, além do medo de, um dia, necessitar de um favor profissional desse mesmo colega que foi criticado por não ajudar em nada - e que poderia então não te ajudar, porque você não o "ajudou" em outra época.
O problema é que sempre temos medo dessa possível "vingança", porque esse costume, o de vingar algo que não nos agrada, existe - e não me diga que nunca pensou, nem um segundo, em vingança, seja profissionalmente ou não.

Em uma civilização ideal, o colega, pra começo de conversa, nem se encostaria, e sim faria o seu trabalho. Mas no caso de se encostar e outro colega - aquele que faz o trabalho - reclamar, o encostado enxergaria e consertaria seu erro, e nem pensaria em se vingar pela reclamação, pois não haveria motivo, considerando que o errado seria ele.
Porém, como não existe essa civilização, ficamos nessa de ter medo de eventuais necessidades de ajuda e de futuras vinganças e acabamos ficando calados, fazendo o melhor trabalho possível, sozinhos. E afogamos nossas mágoas resmungando com os outros colegas que fazem.

Para quem se ilude: isso nunca vai acabar, viu?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Relembrando o que não deveria.

"E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei." (Los Hermanos - O Último Romance)

Faz agora quase um ano desde a última vez que vi/falei com o Mr. Platônico 2009. Parece que foi ontem que entreguei, tremendo, o primeiro desenho que fiz pra ele - eu bem sei o esforço hercúleo necessário para essa entrega.
No tempo imaginário - que na minha concepção é construído por uma linha de lembranças e não acompanha o tempo cronológico real -, não faz um ano desde a última vez que eu fiquei na fila do caixa da padaria lembrando dessa música e pensando que, se fosse real - o que era imaginário -, talvez fosse realmente visível tudo o que se passava em mim.
Não esqueci toda a tristeza e tudo de ruim que já quis falar por tantos motivos.

Mas é engraçado ver como o tempo passa e sua cabeça se ocupa de tantas outras coisas que você até esquece um pouco do que passou - não definitivamente, é claro.
É só que agora eu lembrei, ouvindo Los Hermanos, logicamente. Acho até que me obrigo a lembrar, justamente pra não gastar mais desenhos com esse tipo de coisa (HA HA).

Não me perguntem o motivo de eu ter voltado a esse assunto. Eu não sei. Talvez sejam as férias. Sabe como é: "cabeça vazia, oficina do diabo". Ou qualquer coisa assim.


"Sinto que é como sonhar, que o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer." (Los Hermanos - O Vento)

Parei.