sexta-feira, 13 de abril de 2012

Melancolia


"Melancolia" é um daqueles filmes para serem vistos mais de uma vez. E também é um daqueles tapões na cara que podem servir de prova para muitas das minhas opiniões e teorias internas.
A ideia de que todos nós, em algum momento, seremos atingidos - com força - pela melancolia é incrivelmente transmitida de uma maneira surreal. Como é dito no filme: não tem como se esconder, não tem pra onde fugir.
E fica claro que simplesmente não importa a quantidade de coisas supostamente boas e desejáveis existam na sua vida - não estou falando aqui sob uma perspectiva puramente material -, pois nem assim você estará salvo. Não existe vacina.
Além de tudo, fica o questionamento da obrigação que nos impomos e que os demais nos impõem de sermos felizes. O fato é que não é assim que as coisas funcionam, não rola felicidade na marra, só porque devemos tê-la. Ser/estar triste não é - ou não deveria ser - condenável.
Let's be happy being sad.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Blue, Red, White and Wine.

The sickness of the cold sweat in his pale skin. He didn't knew why but, for some reason, the sensation wasn't totally bad.
"Actually", he thought, "it's almost pleasent".
His head was leaning in the bathroom marble sink and his hands were each one at each side of his body, hanging, pathetically weak.
He raised his head and stared at himself in the mirror. Pale blue eyes, ginger hair, all glowing. Then came the revelation:
"I'm a masochist".
Two blinks from the pale guy in front of him.
Now it was all as clear as the water dripping from the tap. That was why he was drinking seven times a week and playing his violin until the pain in his fingers was excruciating. And, of course, for the same reason he waited for the cold sweat every morning.
All those shitty things were making him feel alive. The only things capable of doing that since..
"when?", he thought.
He couldn't remember. Probably started around the same time that his friends walked away from him. He had the funny feeling that they all went away for the same reason.
"I must have done something unforgivable."
Again, he didn't know what.
"I should see a psicologist, a shrink, an analyst, shit, I don't know, something like that."
He lay down on the cold and white floor, feeling much better.
"Tomorrow I'll think better about this idea and search for some help on the phone list."
His fingers touched the wine bottle's glass beside him.
"Tomorrow, maybe."

terça-feira, 4 de outubro de 2011

All gone.

E eu me esqueci do que é querer algo. E querendo lembrar, vou esquecendo cada vez mais.
Parece que não sobra nada de interessante. Nada agrada, nada me faz desejar.
O desenho, o trabalho, o platonismo(!). Não sobrou nada.
Nem a escrita.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

No Banheiro do Bar.

"Eu poderia comê-lo", pensou Beatriz, enquanto Renato contava para ela - que tentava , sem sucesso, se concentrar em ouvir - as histórias de suas últimas viagens.
- Você está prestando atenção? - perguntou ele, que tinha a sensação de que Beatriz não o ouvia realmente.
- Claro! - respondeu ela, que por sorte conseguiu entender a pergunta. A concentração evaporando, o olhar fixando-se novamente na boca que a questionava.
- E o que foi que eu acabei de dizer? - perguntou Renato, sabendo que ela não conseguiria responder.
- Que em Barcelona você encontrou uma caloura do seu curso - falou, mole, enquanto seus olhos desciam pelo pescoço.
- Não, foi na Bolívia. Onde você está? - peguntou ele, com indícios de preocupação na voz. Ela não parecia bem. "Talvez tenha sido a tequila", pensou ele, "vou falar pro garçom não trazer mais nenhuma dose que ela pedir".
- Não queira que eu te responda..
- Quero sim. Pense em alguma resposta suficientemente boa e me diga quando eu voltar. Vou ao banheiro, não demoro - tocou a mão dela, levantou-se e andou apressado, não queria deixá-la sozinha por muito tempo.

Beatriz contou 10 segundos antes de segui-lo. Entrou no banheiro masculino e foi para o box reservado. Com Renato.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Can I look to your blue eyes?

"Veio até mim. Quem deixou me olhar assim? Não pediu minha permissão." (Céu - Malemolência)

Parece que esse processo, essa cerimônia e essa necessidade de uma permissão para olhar para o outro realmente existe. Por que será?
Talvez a percepção - ou não, pode ser inconsciente mesmo - de que o corpo, no final das contas, é o nosso único território verdadeiro e garantido, nos desperte o instinto de delimitá-lo, de protegê-lo, mesmo que seja apenas de olhares inofensivos.
Em uma cidade tão grande, com tantas pessoas para serem observadas, isso pode ser acentuado. Não (só) porque se deve proteger o corpo contra muitos outros, mas sim porque surge a questão: "com tantas pessoas aqui, por que essa criatura está olhando para mim desse jeito?"
A impressão é de que, com o advento da tecnologia e suas telas, observar o corpo alheio - ou parte dele - diretamente, ao vivo, é um ato que só pode ocorrer quando existe um estranhamento ou interesse. E isso pode ser até relacionado com o julgamento de feio/bonito fisicamente. "Pode ser" não: é.
Não se pode mais olhar despretensiosamente, sem realmente ver, pois, quando você perceber que está olhando pra uma pessoa, provavelmente ela já estará com o olhar cheio de armas, questionando o seu silenciosamente - "o que é? Tá me achando bonita(o)/feia(o)?". Ou não, vai saber.



Posso olhar pra você?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

E assim foi o romance (ou Capítulo II)

A luz das 5:40 da manhã penetrava preguiçosamente a cortina do quarto. Ninna abriu os olhos, vagarosamente. Giullia estava no outro extremo da cama, dormindo, angelical como de costume. Ninna observou-a por alguns minutos, imóvel.
Resolveu então levantar-se. Leve, andou sobre o carpete de madeira sem fazer barulho, até alcançar o armário, ao lado do qual deixara sua pasta quando chegara, na noite passada. Tirou o bloco de papel canson, os três lápis que usava para desenhar e sentou-se no chão, ao lado da cama, encostando-se na parede que a deixava de frente para o rosto de Giullia.
Traçava cada linha com delicadeza, como se estivesse tocando a modelo que, no meio do traçar, despertou, abrindo minimamente os olhos azuis elétricos.

- O que você está fazendo? - perguntou Giullia, a fala enrolada, quase um resmungo.
- Você. - respondeu Ninna, sem parar de desenhar.
- Mas eu não sou modelo, sou velha, estou inchada e fui pega desarmada. - fez menção de mexer os braços.
- Não se mexa, me dê mais um minuto. E quem disse que precisa ser modelo para ser desenhada? Você não é velha, não está inchada e eu não queria que se armasse, de qualquer maneira.
- Mas modelos são mais bonitas.
- Pare de bobagem. Pode se mexer um pouco agora, e depois sente de costas para mim. - Ninna falou suavemente, contrariando o conjunto de palavras imperativas.
- Não sei porque ainda te deixo me desenhar. - resmungou Giullia, fingindo irritação e enrolando-se no lençol ao sentar.
- Porque você gosta de saber como eu te vejo. Tire o lençol.

Giullia não tinha resposta - a afirmação era verdadeira. Rendeu-se, tirando o lençol.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Nem Sempre Elevador

- Esfriou, né?
- Pois é. Era tão quente...
- Era.
- Era azul também. Bem azulzinho, djavanesco.
- Virou cinza...
- Cinzinha.
- Pena que acabou assim...
- Pena mesmo...
- Talvez alguns relacionamentos não sejam resistentes à passagem das estações.
- Esse é o ponto.
- É.
- É.






P.S.: é, acho que perdi a prática. Levando isso aqui como ando levando tudo: nas coxas. Ou nos pés mesmo.