domingo, 24 de abril de 2016

Da carne.

"Com relação à carne, ela não mitiga nem a premência de nossas necessidades vitais nem um desejo cuja insatisfação acarreta sofrimento [...] Ela não contribui para a manutenção da vida, mas proporciona prazeres variados [...] como a degustação de vinhos exóticos e tudo do que nosso organismo é suficientemente capaz de se privar."

(Epicuro APUD Alain de Botton)

Ontem eu fui à feira e vi uma infinidade de aves (patos, galinhas, galinhas da Guiné, entre outras), em gaiolas. Uma grande quantidade dessas aves em uma mesma gaiola baixa e não muito larga (e eram várias gaiolas), a atropelarem-se, machucarem-se e a morrer de calor. Tive raiva. Senti vontade de bater no cara que estava vendendo os bichos, ou de comprá-los todos, só para poder dar a eles a liberdade (mas aí, alimentaria o sistema de compra e venda dos mesmos), e aí veio uma falta de solução atrás da outra. Frustrante. Não sou ativista, mas tenho me incomodado cada vez mais com as coisas que vejo (desperdício, exagero, falta de tato no trato com animais) em relação à alimentação. Isso e todo o resto.
Tudo nasce para nós. Tudo é criado para saciar os nossos desejos. Que seja feita a nossa vontade, amém. Somos pequenas criaturas mimadas, criadas por Deus à sua imagem e semelhança. E eu juro que não faz sentido. E era esse o início do meu pensamento bêbado escrito aos garranchos no sketchbook.
Por que, para início de conversa, Deus teria a forma humana, se é mais do que sabido que somos os seres mais falhos de que se tem notícia? Seria porque somos dotados de capacidade de raciocínio? Isso não parece nos salvar de uma série de erros homéricos e ininterruptos. Ou, para variar (e faz mais sentido), Deus na forma humana (como pintam milhares de pessoas durante séculos de história) é apenas a nossa projeção, porque nos consideramos as criaturas mais importantes de todos os tempos enquanto, na verdade, somos apenas um emaranhado de tripas e confusões sem nenhuma real razão de existir?

Ah, cansei.

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