segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Leite e Nescau

Já me foi dito, certa vez, que não podemos querer que a vaca - estou falando no sentido literal, não é xingamento, acalmem-se - nos dê leite com Nescau, porque a única coisa que ela pode nos dar, com certeza, é o leite. O Nescau... Bem, o Nescau você arruma, se fizer questão.
A metáfora, na época, foi utilizada para falar de pessoas - e aqui, nesse momento, o propósito é o mesmo.
O que quero dizer é que cada um dá aquilo que pode - quando quer, é claro, há essa questão também -, dentro de suas limitações. Não estou falando de limitações financeiras - embora se encaixe no assunto também -, mas sim de limitações sentimentais, presenciais, ou sei lá..
Na verdade, a questão é a seguinte: não posso querer que alguém esteja aqui "ao lado" o tempo todo, porque existem outras coisas no meio, que eu nem sei o que são, mas estão lá, impedindo, pois têm de ser resolvidas.
Mas também tá tudo certo, porque de vez em quando, de quando em vez, aparece o leite. E o Nescau eu arrumo.




And, anyway, if we decide to be angry and talk all the stuff we want, the milk can dry. Forever. Or, at least, for a fucking long time.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

E assim foi o fim.

O sol nascia lentamente. Um raio pálido entrava pelo canto da janela que a cortina não cobria, pois não fora puxada até o fim - Giullia fora puxada antes de terminar a ação.
O raio invasor iluminava seus cabelos louros e cacheados, criando ao redor deles uma aura quase angelical.
A pele, branquíssima, refletia a luz, que competia em palidez. Sua boca estava ligeiramente aberta, e indicaria um sono tranqüilo, não fosse o filete de sangue que escorria dela e manchava o lençol branco, agora já seco. O vermelho que ali ficou contrastava com o azul elétrico dos seus olhos, abertos e vidrados - outro indício de que ela já não dormia.
Já não respirava mais havia três horas, agora que o relógio marcava 5:40 da manhã.
Exceto pelo fato de que Giullia estava morta, tudo no apartamento parecia normal. Na escrivaninha, apenas um bilhete com duas palavras - "ela mereceu" - e um batom vermelho, servindo de peso para o papel.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Diversas imagens, um ser.

Há algumas semanas fui a uma "aula" de mitologia grega relacionada aos dias atuais. Na verdade, formávamos um grande grupo que, guiado pela história de Édipo, refletia sobre as falas dele e das demais personagens e, a partir daí, "filosofávamos" loucamente. Estou falando tudo isso para chegar a um ponto específico da conversa.
Em determinado momento - e aqui está o ponto -, falou-se das imagens que criamos das pessoas, e mesmo dos objetos. Por exemplo, a imagem que temos das nossas mães durante nossa infância e que, em alguns casos, não muda ao longo do nosso crescimento, pois nunca (?) achamos que nossas mães mudaram, enquanto pessoas de fora dessa convivência podem perceber essas alterações e ter imagens diferentes dessa mesma pessoa.
A partir desse ponto, comecei a pensar no que eu e as pessoas ao meu redor, no que nós pensamos sobre mim.
Já vi gente de um determinado grupo de amigos - e as características a seguir geralmente são observadas por amigos meus que provém do círculo de amizades da minha mãe - me achando legal, amorosa e qualquer outra coisa que eu geralmente não consigo identificar muito em mim mesma (é sério). Outros (amigos ou não) acham - com imensa razão, na maioria das vezes, aí posso garantir - que sou grossa, briguenta, chata e suas derivações. E não estou querendo fazer ninguém dizer que estou/estão enganada/enganados, embora possa parecer.
Apesar de todas as rotulações feitas pelas poucas pessoas com as quais tenho contato, existe uma imagem que se sobrepõe às outras: a que eu faço de mim. Pode ser considerada a mais importante - não que eu não goste de saber quais são as outras, é claro, não sou hipócrita, nesse sentido, pelo menos -, por ser eu a conviver com minhas paranóias, manias e doenças todos os dias, e por ser impossível mentir para essa pessoa - as sensações que aparecem juntamente com cada fato que ocorre não permitem disfarces.
Nessa reunião, falou-se que nenhuma dessas imagens é a absolutamente verdadeira, e que cada um pode ter uma (ou várias) interpretações, não sendo necessário que uma anule a outra.
Talvez - e acho que há grande probabilidade - as diferentes imagens que fazem de uma mesma pessoa só dependam da situação em que a observamos. Por exemplo: amigos da minha mãe e alguns amigos meus me viram várias vezes em ambiente familiar - tranqüila, sem pressa, sem irritações, sem barulhos desnecessários, brincando, rindo -, enquanto outros amigos/colegas me viram em sala de aula - irritadiça, resmungando, reclamando do barulho, séria, emburrada.
Então talvez seja tudo uma questão de interpretar essas diversas imagens - levando em consideração a situação em que a pessoa foi observada e a partir da qual foi gerada a imagem - e misturar tudo, porque em algum ponto cada uma delas estará certa (será?), e isso nos dará uma imagem mais precisa de alguém/algo (?).

Sei lá, eu só queria escrever algo. Talvez não tenha dado muito certo, mas é isso aí.