sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Linguagem e evolução.

Somos os únicos animais que desenvolveram uma linguagem complexa. Somos, principalmente por isso, considerados a ponta máxima da árvore evolutiva, apesar de ainda não sabermos exatamente quando ou por qual razão desenvolvemos essa característica.
Em compensação, exatamente por essa linguagem, somos os únicos que problematizam a existência e entram num sem-fim de questões angustiantes e sem resposta sobre a razão de estarmos aqui e de sermos como somos. Somos os únicos que, tendo esse tipo tão específico de linguagem, vivem agoniados a procurar alguém de outra espécie com quem possamos nos comunicar - talvez por solidão, ou talvez por prepotência em querer confirmar nossa superioridade, devido à exclusividade dessa característica.
Eu não tinha pensado por esse lado, até fazer um seminário sobre isso e o docente responsável fazer um comentário mais ou menos assim. E nem cheguei a pensar tanto quanto deveria, pois ainda não fiz a lição de casa de pesquisar o que já existe sobre isso, mas achei válido anotar esse pensamento por aqui, pra que não se perca em algum papel por aí.

Talvez tenhamos desenvolvido a linguagem como um meio de externar nossas angústias e uma maneira de saber se mais algum bicho por aí tem sentimentos como os nossos. O que me leva a lembrar de Wittgeinstein e o problema (muito interessante) da linguagem privada. Mas esse é outro papo, de outra questão, com outras resoluções não concretas, rs. Language is great.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Jellyfish and passion.







Passion is like a jellyfish: it's beautiful, powerful and it can hurt you to death.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes , maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende."

Pessoa, como tem sido.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Pessoando.

"Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais."

(Livro do Desassossego)

Cada ideia um gozo cerebral. Desculpa, Pessoa, talvez você não quisesse ter a sensação causada pelas suas palavras comparada à sensação de orgasmo, mas entenda isso como a expressão máxima do prazer - um prazer que alcança até um aspecto divino (preciso ler algo sobre isso) -, rs, já que estamos falando de divindades e adoração -, então não se ofenda. We should hang out, anytime.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Supermassive Black Hole

Sometimes I think I'm full of holes.
Knowledge holes, emotional holes, memory holes (perhaps I should use gaps instead of holes, but I don't want to and I don't care, rs. Language is freedom - or not, but I have no intention to start this wonderful discussion right now, rs)...
Now, if I'm full of holes, how can I be a whole person?
In the middle of all of these holes, there is a big black hole called exhaustion. All of my holes, that are part of my whole person (dammit, this text is just getting worse and worse, rs), are being sucked into the black hole. A beautiful supermassive black hole.

Shit.
Soçobrar.

Qual é a sensação?

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Imagine.

Exitem coisas que não podem ser realizadas parcialmente. Por exemplo, se queres construir uma casa, não podes fazer pela metade a estrutura que a sustenta. Não é preciso entender de obras para saber que, se a obra assim for feita, muito provavelmente alguma parte da casa estará comprometida e ruirá a qualquer momento, e todo o trabalho feito até então terá sido em vão. Acredito que até aqui estamos todos de acordo, certo? Então sigamos.
A respeito da educação, eu penso a mesma coisa. Não dá para esperar que um aluno seja bom e educado se ele não foi estruturado para tal. Não importa quantas aulas, não importa quantas atividades e reforços, reuniões e chamadas de atenção: se não há estrutura, não adianta querer completar o telhado. E a estrutura aqui é formada tanto pela família quanto pela escola.
Mas aí surgem várias questões e, entre elas, uma das mais cruciais é: qual é o papel de cada pessoa/instituição no processo educativo de um cidadão? Os pais devem fazer todo o trabalho com relação à questões básicas como respeito, bons modos? O professor deve restringir-se à matéria a qual leciona? É complicado.
Particularmente, acredito que a configuração em que a sociedade se encontra - muita informação o tempo todo, o que pode fugir ao controle dos pais; crianças permanecendo na escola em tempo integral; pais ausentes por excesso de trabalho (os eventuais casos de futilidade ou aborto opcional - metaforicamente falando, é claro - eu prefiro ignorar) e inúmeros outros aspectos -, tem tornado as linhas que estabelecem os limites entre esses papéis cada vez mais tênues.
Mas antes que possa ser mal compreendida, esclareço: não estou aqui dizendo que os professores devem tomar para si o papel de pais e simplesmente fazerem todo o trabalho de educação dos filhos alheios por conta própria. Não é isso. O que quero dizer é que existem questões que surgem em sala de aula que, na minha concepção, não podem ser ignoradas quando ocorrem ou, pelo menos, eu, mesmo sendo "apenas a professora de língua estrangeira", não consigo ignorar, pois tocam em um aspecto muito maior do que a mera educação curricular: tocam na humanidade.
Não consigo, por exemplo, ver o surgimento da questão de gênero e papel social quando alguma criança diz que "rosa é cor de menina" e não falar nada. Não é o caso de dar uma aula sobre sobre isso, mas é o caso de dizer que rosa é só mais uma cor, como todas as outras, e que qualquer um pode usar a cor que quiser, pois não há problema nenhum nisso. Faz parte da matéria que ensino? Não. Faz parte da educação? Sim. Não é nada, não é muito esforço e talvez nem mude a ideia da criança, mas é uma tentativa e, para a minha consciência, já é alguma coisa.
Sei que não dá para intervir em todas as situações, sei que não dá para esperar que o mundo mude com um comentário, e sei também que às vezes cansa - e muito - , mas acho necessário. Não dá para esperar que um garoto mais velho não chame o outro de "viadinho" porque está vestindo uma camisa rosa se, na outra oportunidade que tive, eu nem tiver tentado dizer que rosa não é um problema - ser "viado" também não, mas se dizer que rosa não é um problema já pode causar uma situação complicada com os pais (é, pois é, pode), imagine dizer algo sobre orientação sexual, rs, então aí pedimos ajuda.
No fim, tudo isso é pra dizer que eu tento, e acho que não custa todo mundo tentar. E acredito que se ainda há uma esperança de uma sociedade minimamente melhor, escola e pais precisam trabalhar juntos sim, inclusive quando questões de gênero, machismo e sexualidade surgem, pois tudo isso está dentro de uma coisa muito maior, que é o respeito. Ainda tenho essa esperança, acho, e vou tentar não me tornar mais uma do grupo dos que desistem de tentar.



"You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one". Apelei mesmo, rs, guilt-free.


sábado, 29 de julho de 2017

Little Moments of Poetry

Alain de Botton once said that one of our problems is the optimism, because it makes us think that hapiness is like a country we have to discover and live in forever (not really forever, but for a really long time) when, actually, all we can truly achieve is a bunch of "little moments of poetry" (I just loved this expression). I couldn't agree more.

I was thinking about how we live our ordinary lives everyday without minding if there's a reason or a final purpose for everything, and it reminded me of Alain's speach. Maybe the secret of life is discovering what makes us have these little moments of poetry and, once we discover their cause, we achieve our goal. Maybe this is hapiness: the discovery of what makes you have moments of poetry and live life causing and enjoying them. Maybe this is the key, maybe this is the purpose of life.

One can think "well, but it looks like a pretty easy goal to achieve", but I don't think so, because you have to do so - the discovery - while living a bunch of difficult moments that can ruin your poetry with the blink of an eye.

Well, I don't know, but from now on, instead of asking "are you happy?", I'm going to ask "are you having a little moment of poetry?". Haha.


terça-feira, 18 de julho de 2017

Sobre aqueles mistérios.

"A consciência, bem o sabemos, não é senão uma parte restrita do nosso intelecto, o qual, obscuro no seu interior, volta-se para o mundo exterior com todas as energias de que dispõe. Todos os seus conhecimentos perfeitamente seguros, digamos certos a priori, dizem respeito somente ao mundo exterior, podendo-o ainda em tal campo, aplicando-se certas leis de caráter geral, que têm em si mesmas o próprio fundamento, distinguir de um modo infalível o que é possível e impossível fora, o que é necessário e o que é supérfluo. Foi assim que ficaram estabelecidas as matemáticas puras, a lógica pura e também as bases da ciência natural, todas a priori. Em seguida à aplicação dessas formas conhecidas a priori aos dados fornecidos pela percepção sensível, depara-se-lhe o acesso ao mundo visível ou real, tornando-lhe, ao mesmo tempo, possível a experiência; mais tarde, a aplicação da lógica e a faculdade de pensar, que constitui a base, neste mundo exterior revelado pelos sentidos, fornecer-lhe-á os conceitos, abrirá às suas atividades o mundo das ideias, permitindo, consequentemente, nascimento às ciências e frutificação, por sua vez, aos seus resultados. É, portanto, no mundo exterior que a inteligência vê diante de si a luz mais fulgurante. Todavia, no interior tudo é sombra, como em telescópio bem enegrecido: nenhum princípio a priori iluminará a noite do nosso forum interior; são faróis que reverberam unicamente para fora."

(Schopenhauer - O livre-arbítrio)

Quando eu disse que não importava o quanto soubéssemos, o quanto buscássemos e o quanto descobríssemos, porque sempre deixaríamos algo escapar, era sobre isso que eu pensava sem sequer saber. Nunca saberemos os limites das nossas sombras ou a origem real e concreta dos mistérios que surgem em meio a elas, pois os faróis iluminam para fora. E tudo bem, assim caminha a humanidade.

quarta-feira, 5 de julho de 2017


              I don't draw just because I like it. I draw because I need it to keep me sane. I don't know if someone has said it before but, anyway, I'm saying.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A gente vive correndo, trabalhando, correndo, trabalhando. E, de qualquer maneira, estamos sempre devendo. Dinheiro, conhecimento, explicação, satisfação. Cansa. E cansa grande. Exaure. Gasta, desgasta, seca a alma. Frustra, empobrece o cérebro. E daí surge um mistério. O mistério de sobreviver em meio ao caos e à exaustão. Talvez não. Talvez não sobreviva, mas a gente tenta. E aí canta, pinta, desenha. Escreve crônica, conto, resenha. Tenta achar lenha. Pra manter o fogo aceso e em desespero não entrar. Vontade de gritar. Gritar o saco cheio, a falta de respeito, de esperança e segurança. Cansa. Exaure. Já falei, repito. Cansa, exaure. Me lembra o barulho de um trem em movimento: cansa, exaure, cansa, exaure, cansa, exaure. Às vezes o trem solta um apito, que a gente pode entender como nosso próprio grito em meio a esse cansar infinito. Grito de surto psicológico ou grito de surto artístico, tanto faz. No fim, os dois são semelhantes - ou são a mesma coisa, não se sabe.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Senta aqui, Camões.

"No mar tanta tormenta e tanto dano,
 Tantas vêzes a morte apercebida;
 Na terra tanta guerra, tanto engano,
 Tanta necessidade aborrecida!
 Onde pode acolher-se um fraco humano,
 Onde terá segura a curta vida,
 Que não se arme e se indigne o Céu sereno
 Contra um bicho da terra tão pequeno?"

(Os Lusíadas, final do Canto I).

Camões, vem cá bater uma prosa sobre essa nossa pequenez.

domingo, 4 de junho de 2017

"Eu o vi certamente (e não presumo
 Que a vista me enganava): levantar-se
 No ar um vaporzinho e sutil fumo
 E, do vento trazido, rodear-se;
 De aqui levado um cano ao pólo sumo
 Se via, tão delgado, que enxergar-se
 Dos olhos fàcilmente não podia;
 Da matéria das nuvens parecia.

 Ia-se pouco e pouco acrescentando
 E mais que um largo mastro se engrossava;
 Aqui se estreita, aqui se alarga, quando
 Os golpes grandes de água em si chupava;
 Estava-se co'as ondas ondeando;
 Em cima dêle uma nuvem se espessava,
 Fazendo-se maior, mais carregada,
 Co'o cargo grande d'água em si tomada.

 Qual roxa sanguessuga se veria
 Nos beiços da alimária (que, imprudente,
 Bebendo a recolheu na fonte fria)
 Fartar co'o sangue alheio a sêde ardente;
 Chupando, mais e mais se engrossa e cria,
 Ali se enche e se alarga grandemente:
 Tal a grande coluna, enchendo, aumenta
 A si e a nuvem negra que sustenta.

 Mas, depois de tudo se fartou,
 O pé que tem no mar a si recolhe
 E pelo céu, chovendo, enfim voou,
 Por que co'a água a jacente água molhe;
 Às ondas torna as ondas que tomou,
 Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.
 Vejam agora os sábios na escritura
 Que segredos são êstes de natura.

 Se os antigos filósofos, que andaram
 Tantas terras, por ver segredos delas,
 As maravilhas que eu passei, passaram,
 A tão diversos ventos dando as velas,
 Que grandes escrituras que deixaram!
 Que influição de signos e de estrêlas,
 Que estranhezas, que grandes qualidades!
 E tudo sem mentir, puras verdades."

Discurso de Vasco da Gama ao se deparar com o fenômeno "tromba marítima" em alto mar, antes de aportar pela segunda vez em sua viagem rumo às Índias, n'Os Lusíadas. Nessas horas - em que demonstra seu próprio embasbacamento com o universo e seus mistérios - eu me derreto um pouco mais por Camões. Continuemos a navegação.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cíclico.

Cheiro de gasolina. Gosto. E desperto no meio da pista, em movimento. Desperto após longo período de torpor, como se aspirasse uma lufada de ar após quase afogar - a vida sem reflexão é isso, afogamento. E ponho tudo em questão. Tudo, não passa nada. E vem um cansaço. Um cansaço que não bem cansaço, mas enjoo. E depois, aquela estaca fincada no peito que é a vontade de viver - mas estaca não mata? Se não mata, cutuca. Se cutuca, faz mexer. Se mexe, age. Se age, vive. Se vive, pode afogar. E começamos de novo.

terça-feira, 30 de maio de 2017

"Mas quem pode livrar-se, porventura,
  Dos laços que Amor arma brandamente
  Entre as rosas e a neve humana pura,
  O ouro e o alabastro transparente?
  Quem, de uma peregrina fermosura,
  De um vulto de Medusa pròpriamente,
  Que o coração converte, que tem prêso,
  Em pedra, não, mas em desejo aceso?"

Camões - Os Lusíadas.

Rosas e neve humana pura, ouro e alabastro transparente... Seria o amor sempre tão puro assim?
Talvez sim, e não pura é a paixão. Ambos me agradam. Duas coisas. Sempre duas coisas, rs.


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Processes

Amadurecer é um processo lento - e às vezes doloroso -, mas é bom e essencial. Uma das melhores partes desse processo é perceber que podemos mudar de opinião sobre muitas coisas, e sem culpa - guilt-free, rs.
Muitos dos meus pontos de vista estão em metamorfose, e um deles é relacionado ao Pequeno Príncipe. Não me recordo se cheguei a ler o livro inteiro em algum momento da vida - se o fiz, faz muito tempo - ou se ele faz parte do hall de livros que "conheço" através dos comentários. Enfim, a questão é que tenho pensado sobre aquela frase que vez ou outra me soa piegas: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Até um tempo atrás eu concordava, mas hoje creio que não mais. Sentimentos mudam, relações mudam, situações e a percepção acerca delas também. A responsabilidade também se altera. Tu és responsável por aquilo que cativas enquanto a relação com o que foi cativado perdura e faz sentido. Se a relação muda, a responsabilidade muda junto.
A responsabilidade sobre o que existiu e as marcas deixadas, essa sim, é eterna. Porque, intencionais ou não, essas marcas trazem consequências - positivas ou negativas - advindas de algum tipo de escolha, e deixam memórias registradas em algum lugar, seja ele físico ou não.
Então, acho que uma melhor adaptação da frase seria: tu te tornas eternamente responsável pelas memórias que crias. Mais justo para todas as partes, creio.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

It's all a matter of groove (and language).

Desde que eu me lembro, sempre tive um nível de autocrítica bem elevado ou, pelo menos, imagino que assim seja. É aquilo: se faço uma crítica a alguém, tento olhar para mim e ver se eu não faço a mesma coisa. É o justo, certo? Certo.
Em uma dessas trips de críticas e autocríticas, me deparei com uma questão: o tipo de letra que costumo ojerizar quando cantada em funks brasileiros é o mesmo que me agrada em uma roupagem pop americana. E aí, como é que eu me justifico perante o tribunal dos meus neurônios? 
Procurei uma resposta e não encontrei. É nesse tipo de momento que permito-me assumir a personalidade guilt-free e aceitar que talvez o meu apreço por uma letra sacana e explícita dependa apenas do ritmo - e da língua, talvez - pelo qual ela esteja revestida - além da voz, é claro. E não há nenhuma outra razão, muito menos nobre, para esse critério de seleção.
Mostre-me qualquer funk brasileiro considerado "pesado" e, eu garanto, vou recusar-me a ouvir. Mas coloque para tocar a canção "often" (The Weeknd), na qual Abel Makkonen cantarola "baby, I can make that pussy rain", para ver se eu não sou a mais empolgada na cantoria. Shame on me, rs.
Guilt-free. E The Weeknd, com todas as suas dirty - and sexy as hell - lyrics, mora no meu coração (e nos meus ouvidos).

quarta-feira, 29 de março de 2017

Pessoa.

A literatura, que é a arte casada com o pensamento, e a realização sem a mácula da realidade, parece-me ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Creio que dizer uma coisa é conservar-lhe a virtude e tirar-lhe o terror. Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite.
Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.
Tudo é o que somos, e tudo será, para os que nos seguirem na diversidade do tempo, conforme nós intensamente o houvermos imaginado, isto é, o houvermos, com a imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história seja mais, em seu grande panorama desbotado, que um decurso de interpretações, um consenso confuso de testemunhos distraídos. O romancista é todos nós, e narramos quando vemos, porque ver é complexo como tudo.
Tenho nesse momento tantos pensamentos fundamentais, tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono, e eu faça festas com os olhos fechados, como a um gato, a tudo quanto poderia ser dito.

PESSOA, Fernando. Livro do desassossego.


Certa vez eu disse que talvez a minha forma de expressão fosse o gesto. Acho que me confundi. Preciso mesmo é de palavras.
De uma forma geral, é através delas que compreendemos o mundo. E só o fazemos porque podemos, assim, nos comunicar, registrar, relembrar, elaborar teorias e esquemas de explicação. E esse poder nos dado pelas palavras nos dá a possibilidade de criar cultura e transformar o espaço que habitamos. E, até onde sabemos, essa ferramenta é só nossa.
Aí volta aquele papo sobre conhecimento. O conhecimento e a apreensão acerca da existência só é possível porque é verbalizado e descrito. O resto é balela. Sem palavra não há registro e tampouco compreensão, que dirá o que vem depois - a reverenciada ciência.
Agora acho que encontrei uma justificativa - talvez ainda não tão bem elaborada, mas já é um início, e eu queria muito um - para brigar pelas humanidades. Obrigada, Pessoa - e desculpe-me se desviei um pouco do foco.
Mas, em tempo, devo dizer que, se a palavra é essencial para a compreensão e a existência, a arte ligada a ela também o é, pois alimenta a alma e torna tudo muito mais suportável.

sexta-feira, 24 de março de 2017

A infinitude assusta.

Enquanto esperava sentada em um jardim, ouvi estudantes de ensino médio - que estavam de passagem - aparentemente aflitos com o fato de ter de escolher um curso universitário que definiria "o resto da vida". Internamente, ri. Ri porque já ouvi essas palavras saindo da minha boca anos atrás e cá estou, com um resto da vida completamente diferente da ideia inicial.
Talvez eu queira dar mais profundidade à questão do que o necessário - se é que há alguma profundidade aqui, rs -, mas o ponto é que talvez ainda não tenha passado pela cabeça da garota aflita que, na verdade, nada precisa ser definitivo - e muitas vezes não é, e nem deveria ser. Sempre há uma outra opção em caso de mudanças na direção do desejo.
E o melhor é que sempre temos opções em todas as áreas da vida - profissional, pessoal, em relacionamentos. E ainda bem. Porque a possibilidade de uma infinitude de "mais do mesmo", se o "mesmo" não é bom o suficiente, pode ser realmente assustadora. Assustadora porque pode gerar tédio, e a minha relação com o tédio já ficou bem clara por aqui, imagino - rs.

There is always a way out. Thanks, universe.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Em meio a um estado de sonolência - que é frequente, para não dizer constante, rs -, divaguei - coisa que também tem ocorrido com assiduidade -: o fato de ficarmos mais calados em redes sociais ou com colegas/amigos em geral tem alguma coisa a ver com maturidade?
Talvez não, é provável que seja apenas preguiça. Preguiça ou tédio - ou ambos. Tédio de conversas rasas, ou das que se pretendem profundas mas são recheadas de clichês. Clichês me deixam entediada. Muito.
Mas quero falar sobre o tédio. Esse é um parasita corrosivo. Perigoso, até. Tédio é o meu câncer na alma - obrigada Caio Fernando, por apresentar a expressão. E câncer a gente combate todos os dias, senão espalha e toma conta de tudo.
Ao mesmo tempo em que é maligna, essa monotonia é curiosa. Ocorreu-me que talvez a aproximação/manifestação dela seja o que impulsiona o ser humano a criar e mudar coisas ao seu redor.
Precisamos de mudanças, não só porque o mundo vive em processo evolutivo - e aqui vale salientar aquela noção de que evolução nem sempre é algo positivo como, por exemplo, a evolução de um câncer, rs -, mas porque, como diz o chavão - e eu reclamei dos clichês nas conversas, tsc -, "a rotina mata". Mata porque com ela vem o tédio.
Estar entediado pode ser produtivo pois, em busca de algo que altere o estado de monotonia, o ser acometido por esse câncer pode decidir fazer algo interessante, como pintar, compor, criar enfim.
Mas, claro, há quem entre em processo de entropia tediosa: o tédio pode gerar ainda mais tédio, por preguiça - ou incapacidade - de encontrar algum remédio que o trate. E aí, as células cancerígenas tomam conta, fim de jogo.
Sei lá, pensei nisso e animei-me para escrever. Mas agora não sei se perdi o fio da meada ou se fiquei entediada - novamente -, então melhor parar.

terça-feira, 21 de março de 2017

Literature class.

I'm getting sleepy
Sleepy is the girl on the corner of the classroom
Classroom is a place where I get inspired
Inspired I feel when I start drawing
Drawing is the way I have to deal with my mind
Mind is something curious and mysterious
Mysterious is the universe
Universe is something gigantic and I don't know my role in it
It is gigantic and magnificent
Magnificent is the existence, even if we don't know what it is
Is it possible to know the reason of existing?
Existing, darling, is hard
Hard is this chair in which I'm sitting
Sitting makes me feel sleepy
Sleepy, really sleepy, so I don't know anymore if I'm awake or if I'm sleeping
Sleeping is good, but I'm not sleeping yet, am I?

segunda-feira, 20 de março de 2017

Eu falava sobre a minha impressão de que sempre a humanidade deixa - e provavelmente sempre deixará - alguma compreensão acerca de si mesma escapar. E uma dessas coisas que escorrem pelas mãos é o entendimento da razão de fazermos algumas das coisas que fazemos.
Projeções encaixam-se aí, entre as coisas que fazemos sem saber o motivo - pelo menos eu não sei. Muitas vezes as relações que vivemos confundem-se em projeções, sejam elas constituídas por expectativas otimistas ou apenas frustrações. Passamos boa parte do tempo projetando nos outros as nossas próprias cargas de expectativas futuras e frustrações passadas. Aí entram as charadas sobre as quais eu falava em outro canto daqui, sobre entender passado, futuro e presente, nossa própria existência e o nosso papel na existência dos outros.
Mesmo que tenhamos alguma explicação psicológica para as coisas - a forma como fomos criados, traumas de infância, sei lá eu -, se é que é o caso, é incrível pensar como essas experiências dão origem a resultados tão abstratos dentro do cérebro e nos levam a ter determinados comportamentos.
E aí que no meio dessas projeções podemos perder a noção de realidade. E qual é o limite entre a realidade das situações e o reflexo das projeções? Quero dizer, até que ponto as projeções interferem na verdade das relações?
A verdade... A verdade vem sendo caçada há séculos, e ainda ninguém sabe sequer a sua definição. Dentre as teorias da verdade pelas quais andei passando os olhos, nesse momento tendo a acreditar que a que mais se aproxima de uma certeza é a que, a princípio, considerei mais absurda: a verdade é aquilo que é conveniente para nós naquele instante. E, se é mesmo isso, se a conveniência é quem dita os limites da realidade, meus caros, estamos perdidos, porque nem a ciência - com todas as suas mudanças de posições sobre benefícios ou malefícios de alimentos, remédios e tratamentos que custo a acreditar que ocorram apenas como consequência de novas descobertas -, em que tendemos a crer por apresentar supostas "bases sólidas", escapa.
Pode ser desesperador pensar que, na realidade, a verdade não existe.

terça-feira, 7 de março de 2017

Aquela bagunça habitual.

Às vezes quando as coisas tornam-se mais confusas, acabam por tornarem-se mais interessantes, pois há de se escavar um pouco mais para atingir a compreensão acerca daquilo que se quer compreender. What? Rs.

Observamos os fenômenos na natureza. Deles, elaboramos teorias que os expliquem, teorias que são sustentadas pelo acontecimento desses fenômenos - pela sua comprovação, então. A teoria, então, nos dá a possibilidade não só de compreender (e até prever) certos acontecimentos, mas também nos fornece o poder de transformar os fenômenos, ambientes, etc. "Saber é poder" (Bacon). Se desse processo de observação/compreensão do funcionamento dos fenômenos gera-se o poder de transformá-los, surge então o conhecimento. Se isso, então, é conhecimento, e a ciência deixou de ser contemplativa e passou a ser aquilo que transforma os arredores, então conhecimento é ciência. E ciência, por conter conhecimento capaz de alterar o meio, é poder.
Mas 'trabalho' também é a capacidade de transformar o meio em que vivemos. E trabalho é cultura, porque essa última é o resultado de tudo o que o homem produz para construir sua existência - ou seja, transformação. Mas se a cultura é capaz de transformar, ela também é poder. 
Seria então cultura uma forma de ciência? Diz-se que, de um modo geral, não. O que realmente distingue cultura de ciência, se as duas tiverem base na observação - comparemos um remédio produzido em laboratório e um remédio com ervas in natura ministrados por um indígena que produzam ambos resultados positivos, por exemplo-? O poder econômico.

Eu queria acreditar que o meu professor estava muito cheio das teorias da conspiração capitalista - não sei se esse termo existe, rs -, mas acho que ele, na verdade, pode ter razão. And that's sad. É triste porque ganha o investimento aquele que atende melhor aos interesses dos investidores. E aí, my friend, convencer os bosses de que as humanidades merecem mais investimento é difícil. E falta de investimento pode acabar com a auto-estima dos humanistas. A entropia profissional começa aí.

Céus, quanta besteira. E eu nem bebi.


Entrevista sobre epistemologia que rendeu esse texto:
https://www.youtube.com/watch?v=ZaQ0v0AaEx0

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Cheesy game.

Paixões, vícios, grandes estórias, dramas, complicações, trabalho duro. Sempre achei as coisas intensas extremamente belas.
Mas servem de que?
Para manter a vida ativa, talvez, para fazer valer a existência.
É difícil saber o que faz valer a existência, se sequer sabemos o porquê dela em si.
A existência assemelha-se a um grande jogo de tabuleiro, no qual para andar uma casa, é necessário decifrar uma charada atrás da outra. Charadas que misturam passado, presente e futuro, seu entendimento acerca de sua própria razão de ser e do seu papel na existência dos outros.
It's hard, baby. A gente joga um jogo cujas regras não sabemos, tampouco quando acaba ou o prêmio para o vencedor - e nem se há um prêmio ou vencedor.
Talvez o prêmio seja apenas - e não é pouca coisa - a oportunidade de jogar.



Fuck, these words sound cheesy, don't they?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

(...) Vontade! - assim se chama o libertador e o mensageiro da alegria: - eis o que vos ensino, meus amigos; mas aprendei também isto: a própria vontade é ainda escrava.
O querer liberta; mas como se chama o que aprisiona o libertador?
"Assim foi": eis como se chama o ranger de dentes e a mais solitária aflição da vontade. Impotente contra o fato, a vontade é para todo o passado  um malévolo espectador.
A vontade não  pode querer para trás: não pode aniquilar o tempo e o desejo do tempo é a sua mais solitária aflição.
O querer liberta: que há de imaginar o próprio querer para se livrar da sua aflição e zombar do seu cárcere?
Ai! Todo o preso enlouquece! Também loucamente se liberta a vontade cativa.
A sua raiva concentrada é o tempo não retroceder; "o que foi"; assim se chama a pedra que a vontade não pode remover.
E por isso, por despeito e raiva, remove pedras e vinga-se do que não sente como ela raiva e despeito.
Assim a vontade, a libertadora, tornou-se maléfica; e vinga-se em tudo que é capaz de sofrer, de não poder voltar para trás.

Nietzsche knows stuff.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

"Why do I keep hitting myself with a hammer? Because it feels so good when I stop."

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

99%

Once a student of mine has written that he believes that every person is a miracle - or has a miracle inside himself/herself. I have another idea.
I believe that every person has a heaven and a hell inside. And maybe - just maybe - the secret of life is to discover how to measure them, how to deal with the percentage of heaven and hell you allow yourself to use with yourself and with other people, in all kind of situations. And I say "allow" because sometimes - maybe most of the times - it's a matter of choice. You can choose more of one or more of another.
So, while I don't discover my purpose in this universe, my aim is to find out the measurement of my own hell and heaven, if that's possible. Amen.