segunda-feira, 20 de março de 2017

Eu falava sobre a minha impressão de que sempre a humanidade deixa - e provavelmente sempre deixará - alguma compreensão acerca de si mesma escapar. E uma dessas coisas que escorrem pelas mãos é o entendimento da razão de fazermos algumas das coisas que fazemos.
Projeções encaixam-se aí, entre as coisas que fazemos sem saber o motivo - pelo menos eu não sei. Muitas vezes as relações que vivemos confundem-se em projeções, sejam elas constituídas por expectativas otimistas ou apenas frustrações. Passamos boa parte do tempo projetando nos outros as nossas próprias cargas de expectativas futuras e frustrações passadas. Aí entram as charadas sobre as quais eu falava em outro canto daqui, sobre entender passado, futuro e presente, nossa própria existência e o nosso papel na existência dos outros.
Mesmo que tenhamos alguma explicação psicológica para as coisas - a forma como fomos criados, traumas de infância, sei lá eu -, se é que é o caso, é incrível pensar como essas experiências dão origem a resultados tão abstratos dentro do cérebro e nos levam a ter determinados comportamentos.
E aí que no meio dessas projeções podemos perder a noção de realidade. E qual é o limite entre a realidade das situações e o reflexo das projeções? Quero dizer, até que ponto as projeções interferem na verdade das relações?
A verdade... A verdade vem sendo caçada há séculos, e ainda ninguém sabe sequer a sua definição. Dentre as teorias da verdade pelas quais andei passando os olhos, nesse momento tendo a acreditar que a que mais se aproxima de uma certeza é a que, a princípio, considerei mais absurda: a verdade é aquilo que é conveniente para nós naquele instante. E, se é mesmo isso, se a conveniência é quem dita os limites da realidade, meus caros, estamos perdidos, porque nem a ciência - com todas as suas mudanças de posições sobre benefícios ou malefícios de alimentos, remédios e tratamentos que custo a acreditar que ocorram apenas como consequência de novas descobertas -, em que tendemos a crer por apresentar supostas "bases sólidas", escapa.
Pode ser desesperador pensar que, na realidade, a verdade não existe.

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