terça-feira, 18 de julho de 2017

Sobre aqueles mistérios.

"A consciência, bem o sabemos, não é senão uma parte restrita do nosso intelecto, o qual, obscuro no seu interior, volta-se para o mundo exterior com todas as energias de que dispõe. Todos os seus conhecimentos perfeitamente seguros, digamos certos a priori, dizem respeito somente ao mundo exterior, podendo-o ainda em tal campo, aplicando-se certas leis de caráter geral, que têm em si mesmas o próprio fundamento, distinguir de um modo infalível o que é possível e impossível fora, o que é necessário e o que é supérfluo. Foi assim que ficaram estabelecidas as matemáticas puras, a lógica pura e também as bases da ciência natural, todas a priori. Em seguida à aplicação dessas formas conhecidas a priori aos dados fornecidos pela percepção sensível, depara-se-lhe o acesso ao mundo visível ou real, tornando-lhe, ao mesmo tempo, possível a experiência; mais tarde, a aplicação da lógica e a faculdade de pensar, que constitui a base, neste mundo exterior revelado pelos sentidos, fornecer-lhe-á os conceitos, abrirá às suas atividades o mundo das ideias, permitindo, consequentemente, nascimento às ciências e frutificação, por sua vez, aos seus resultados. É, portanto, no mundo exterior que a inteligência vê diante de si a luz mais fulgurante. Todavia, no interior tudo é sombra, como em telescópio bem enegrecido: nenhum princípio a priori iluminará a noite do nosso forum interior; são faróis que reverberam unicamente para fora."

(Schopenhauer - O livre-arbítrio)

Quando eu disse que não importava o quanto soubéssemos, o quanto buscássemos e o quanto descobríssemos, porque sempre deixaríamos algo escapar, era sobre isso que eu pensava sem sequer saber. Nunca saberemos os limites das nossas sombras ou a origem real e concreta dos mistérios que surgem em meio a elas, pois os faróis iluminam para fora. E tudo bem, assim caminha a humanidade.

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