quarta-feira, 21 de abril de 2010

Na coxia.

Bateu os pés: um, dois, três.
Cruzou os braços: um, dois, três.
Mexeu o ponteiro do relógio: cinqüenta e oito, cinqüenta e nove, sessenta.
Tocou o sinal. Lá vinha ele.
O moço sentou-se.
Ela observava cada detalhe. A barba rala perfeitamente arrumada, o cabelo cuidadosamente desalinhado.
Chegou mais perto. Ele fechou os olhos.
Ela passou suavemente o indicador sobre sua pálpebra, tão leve que ele quase não sentia.
Agora, dois dedos nas maçãs do rosto. Ele ainda parecendo descansar, exceto pelo leve vinco de concentração que se formava em sua testa.
Já haviam passado alguns minutos: um, dois três.
- Sua maquiagem está retocada, já pode ir para o palco - disse ela.
Ele abriu os olhos.
- Muito obrigada. Qual é o seu nome? - ele falou.
- Pandora. - respondeu ela, estranha.
- Muito obrigada então, Pandora - falou olhando nos profundos e grandes olhos castanhos da garota.
Levantou-se suavemente e caminhou devagar em direção à coxia.
Ela lembrou que havia esquecido de algo.
- E qual é o seu nome? - disse, a voz um pouco mais alta que um sussurro.
Ele ouvira perfeitamente.
- Thomáz - respondeu, uma intenção de sorriso aparecendo no canto da boca. Virou-se vagarosamente, quase não querendo deixar aqueles olhos, e para o palco foi. O segundo ato iria começar.
Ela paralisada, ainda com o estojo de maquiagem na mão.
Um, dois, três.


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