terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Filosofada Rasa e Confusa (ou Hel(l)p Me).

Uma pergunta para a qual nunca conseguiremos encontrar uma única e precisa resposta: "O que é o amor?"
Talvez tenhamos uma ideia (daquela do mundo das ideias de Platão) mas, ainda assim, essa ideia é totalmente subjetiva. E aí é que está. Diz-se, seguindo o raciocínio platônico (pelo que entendi), que o "objeto", enquanto no mundo das ideias, está em seu estado de perfeição (em oposição ao seu estado no mundo real). Ok. 
Mas imaginemos a seguinte situação: A minha ideia de amor, que é subjetiva e não pode ser comprovada (e portanto fica presa nesse mundo superior e perfeito) é totalmente oposta a de outra pessoa, que consideraria perfeita a ideia de amor que eu posso repudiar, e que ela também não pode comprovar como existente, correta e perfeita. Se todos os "objetos", enquanto no mundo das ideias, são perfeitos, como decidir qual é a ideia perfeita de amor que reinaria no mundo das ideias?
Teríamos de considerar todas as ideias de amor (incluindo as que poderiam violar direitos humanos e liberdades individuais) como perfeitas e válidas?
No mesmo sentido seria discutir qual é a ideia "ideal" de justiça. Quem tem o direito de decidir qual é o modelo ideal de justiça, se para cada um ela deve ser aplicada de uma forma diferente?*
A questão principal deve ser, então: Como definir o ideal de algo que já é, em sua essência, abstrato?
Que cada um tem as suas verdades, todo mundo sabe. O problema é que considerar como "perfeitos" todos os diferentes ideais sobre coisas naturalmente abstratas (leia-se sentimentos) chega a ser perigoso (a meu ver), mesmo no mundo das ideias. 
E o que é a ideia no mundo das ideias? E o que é a verdade, se na verdade a verdade não existe?

Ah... 


*Tudo bem que damos a determinadas pessoas o poder de decidir e resolver coisas desse gênero em uma escala social, mas o ponto aqui não é esse. 

6 comentários:

  1. Marina, (1) ser subjetivo não implica necessariamente perfeição. Veja, isso é diferente de dizer que aquilo que é perfeito é subjetivo.em outras palavras, significa dizer que tudo que é subjetivo não precisa ser (ou não é) perfeito, mas tudo aquilo que é perfeito é subjetivo. Essa ultima afirmação inclui o sentido de "ideal" platônico. (2) se a perfeição no mundo das ideias existe, não há razão alguma para se pressupor hierarquizações acerca das mesmas, desde que o ideal implica perfeição = nada pode ser melhor, logo,nada pode ser pior = ideal. Para Platão, para que alcancemos a essência ou o ideal, toda compreensão adequada deve abstrair (no sentido de "exclusão")as imperfeições (isso inclui aquilo que acreditamos ser pior). A questão da verdade tbm se inclui: a verdade é imutável, deve ser plena, e ser encontrada nas verdadeiras causas. deve existir uma verdade essencial, q serve a todos os homens e que é alcançada pela busca de algo superior. Leia Menon. desculpe a intro, nem sei se escrevi corretamente depois de umas cervejas. mas tá valendo. in beer veritas. ;)

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  2. Cris, então a ideia seria que, no mundo das ideias, existe o amor (ou qualquer outro sentimento ou conceito "subjetivo", por assim dizer) em seu estado perfeito, mas o que cada um considera como perfeito, no mundo "real", tem a "permissão" de ser subjetivo, já que não afetaria a perfeição da ideia nesse "universo paralelo", então não precisaríamos eleger uma só forma como perfeita, já que a partir do momento em que sai do mundo das ideias, já deixa, naturalmente, de estar em estado de perfeição. É isso? Se for, acho que faz sentido. Então a perfeição no mundo das ideias é independente das subjetividades e/ou hierarquias, e aqui em baixo, a gente se resolve? Rs.
    E oxi, aqui sempre será espaço livre para debates, então be my guest.
    Lerei! Agora estou lendo sobre retórica, long road, :). Beer always helps, rs.

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  3. Oi Marina, como previ, a cerveja me atrapalhou. Tiro do livro “iniciação à história da filosofia” de D. Marcondes, um trecho q talvez sirva para iluminar a sua questão. Fiz algumas pqnas modificações, mas acho q deve ajudar: Para Platão, a filosofia é essencialmente “teoria” = capacidade de ver, através de um processo de abstração e superação da nossa experiência concreta, a verdadeira natureza das coisas em seu sentido eterno e imutável”. “ é preciso que se estabeleça critérios segundos os quais um método de análise filosófica é aplicado de forma correta e eficaz. É preciso termos critérios para estabelecer quais as definições podem efetivamente ser consideradas válidas, do contrário, não dá para saber como o método de análise produziu o esclarecimento a que se propõe”.
    E seguindo: “Por essa razão ele constrói, uma doutrina sobre a natureza última e essencial da realidade, para q se possa definir o tipo de compreensão e conhecimento que é possível ter dessa realidade. Ele quer mostrar que na medida em que a filosofia passa a se definir como teórica, contemplativa, dirigida para uma realidade abstrata e ideal, a reflexão filosófica afasta-se progressivamente do mundo de nossa experiência imediata e concreta”.


    Logo, a sua questão que reflete uma ideia inteligível, segundo Platão, deve, para ser respondida correta e eficazmente, recorrer a critérios estabelecidos para saber se o método é válido. Qual o método correto? Isso pode ser visto na alegoria da caverna, que contém três partes fundamentais q vc deve saber: a cena inicial, que é a metáfora platônica da realidade sensível (mutável e imperfeita) – onde estão os acorrentados e os imóveis desde a infância que só conseguem ver as sombras. Daí, o lado oposto da caverna, onde há a fonte de luz em que se projetam as sombras, há homens que carregam objetos por cima de um muro (para Platão são os sofistas e políticos que produzem a ilusão aos acorrentados que vem a sombra). A segunda parte que é a possibilidade de libertação de um dos prisioneiros, que tenta se libertar por um conflito interno entre o hábito/acomodação e o eros, o impulso, a curiosidade (conflito que é o motor da dialética – essa é a parte da dialética ascendente). E a terceira parte, que é o retorno à caverna (dialética descendente).

    “A minha ideia de amor, que é subjetiva e não pode ser comprovada (e portanto fica presa nesse mundo superior e perfeito) é totalmente oposta a de outra pessoa, que consideraria perfeita a ideia de amor que eu posso repudiar, e que ela também não pode comprovar como existente, correta e perfeita. Se todos os "objetos", enquanto no mundo das ideias, são perfeitos, como decidir qual é a ideia perfeita de amor que reinaria no mundo das ideias?”

    Através da reflexão filosófica, pelo método dialético, vc será capaz de saber se a sua ideia de amor é totalmente diferente da de outra pessoa. Você verá que não basta considerar que, apenas porque a sua ideia de amor é subjetiva, está no mundo das ideias, ela é perfeita (isso bate com o que escrevi antes - vai ver a cerveja não era tão ruim) o que só pode ser descoberto pelo método dialético.

    muito provavelmente vou qrr revisar posteriormente essa explicação, mas agora, impossível. em tmpo: só a mardita help, mas eu não posso mais. ;)

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  4. obs:o que só pode ser descoberto pelo método dialético.(tira)

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    1. Oi Cris. Então, eu reli tudo o que foi escrito aqui, reli o texto da Alegoria e fui atrás de umas definições de dialética. Depois de tudo isso, acho que eu estava começando por um caminho errado, porque estava querendo que tudo se resolvesse a partir da pura subjetividade. Vou colocar o que entendi.
      (1) A dialética ascendente baseia-se num distanciamento cada vez maior da experiência individual e subjetiva, indo em direção a uma ideia mais "neutra" daquilo que eu quero colocar em discussão. (2) Ocorreria então o diálogo, a comparação entre o meu ideal (que deveria se afastar o máximo possível da realidade sensível) com outros ideais (também com a subjetividade mais "neutralizada") e, a partir daí, seria gerado um novo conceito, que superaria todos os iniciais que foram colocados em discussão. (3) Por fim, o novo conceito poderia ser comparado com o antigo, iluminando e eliminando os erros causados pela subjetividade, e espalhando a luz por aí (rs).
      No fim das contas, o que parece é que a subjetividade é bacana enquanto gera os questionamentos, mas ela é como as partes do foguete que vão se soltando quando não possuem mais utilidade (e que, na realidade, podem /vão atrapalhar). Tudo bem que também parece que, depois de gerado o novo conceito ("neutro" e superior), ele irá se voltar para a realidade sensível e cair na subjetividade novamente (porque será involuntaria e inevitavelmente vivido individualmente), mas, até aí, eu já estou mais aliviada, rs.
      Thanks for your help, deu uma boa clareada (acho, rs). Na próxima, cerveja inclusa! :)

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  5. Tenha em mente que Platão vê a filosofia como teoria - equivale dizer que a teoria é a capacidade de ver através de um processo de abstração e de superação de nossa experiência concreta. I think you are in the right way. :) na próxima, cerveja inclusa. ;)

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