segunda-feira, 25 de julho de 2016

Desespero Agradável

"Insaciável", disse a psicóloga com um sorriso no canto da boca enquanto analisava o desenho astral, ou qualquer que fosse o nome daquele emaranhado de formas, números, linhas e cores que dizia dizer algo sobre sua personalidade. Insaciável.
E aí subia a rua pensando em poesia. Não na poesia em si, mas no ato de "ser poético". Porque diziam que ser poético era característica de algo bonito. E ela adotou o adjetivo, embora nunca tivesse realmente gostado de poesia. Dizia que não entendia. Talvez fosse estúpida demais para entender, pensava. Ou apenas preguiçosa. Mas não, a burrice era uma alternativa que julgava lhe caber melhor. Seria auto-sabotagem? Não saberia dizer. Afinal, a necessidade de descobrir se era isso a levou para aquele consultório, para início de conversa. "Insaciável" foi a palavra. Será? Será que a sensação de não saber de nada era apenas uma armadilha para que buscasse mais? E mais, e mais, e nunca o suficiente armazenado nessa massa cinzenta que às vezes lembra um peso para papel, porque estática, desprovida de raciocínio. Inútil.
Mas na verdade o ser poético era por ser bonito e às vezes havia beleza - ou poesia, não saberia dizer - onde supostamente não deveria. Beleza na auto-sabotagem. Beleza nas armadilhas. A insaciedade parecia poética. Mas não saberia dizer. Não entendia. Não.

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