terça-feira, 7 de agosto de 2018

Contradições

Acho que o maior esforço que pode existir, no fim das contas, é o de não cair em contradição consigo mesmo. Foi Hilda Hilst quem disse que "se você é coerente consigo mesmo, o resto é suportável". Questiono a minha coerência e ela tem sido questionada também por terceiros - ou seriam segundos, considerando que quem questionou antes fui eu? Agora estou confusa. -, e isso é algo extremamente interessante e importante. Uma das minhas incoerências está em uma questão específica com a arte.
Sempre tive interesse por arte e sei que, conscientemente, levanto a bandeira de que todos devem ter acesso a qualquer tipo de expressão artística que seja. Porém, ao mesmo tempo em que defendo essa democratização, percebo-me vez ou outra caindo em algumas armadilhas que talvez sejam criadas pelo meu ego e pelo seu fruto, o egoísmo.
Explico-me: gosto de arte de uma forma geral, mas não costumo gostar daquilo que torna-se extremamente comercial. Romero Britto e seus coloridos repetitivos em caixas de sabão em pó, por exemplo, passam, para mim, longe da ideia de arte. Por não parecerem ter um propósito, uma mensagem e por serem extremamente vendáveis, suas obras apresentam-se para mim como uma imagem qualquer que atrai crianças por suas cores. Por outro lado, uma performance da Marina Abramović - que embora seja hoje bastante popular, ainda não é tão facilmente digerível pelo grande público quanto Romero Britto - agrada-me imensamente, não só por sua preciosidade enquanto trabalho com os limites do corpo e a busca pelo sagrado, mas também pelo caráter mais exclusivo, em um sentido menos popularesco.
Há também uma espécie de "mania indie/hipster" da qual tento me livrar, que é a de gostar das coisas enquanto elas não caem no gosto popular. Quando caem, pareço considerar que perdem seu valor. Mas não é bem assim que as coisas deveriam funcionar, já que defendo que a arte deve espalhar-se e ser alcançada por todos.
Se quero uma sociedade com maior nível cultural - que fique claro que não é minha intenção ser arrogante ou posicionar-me como parâmetro de qualquer coisa - com quem seja aprazível conversar, devo incentivar que o "intimista", ou o que considero como um nível mais elevado de arte - plástica, musical, qualquer delas - torne-se um pouco mais popular no sentido de atingir mais pessoas. E se, de alguma forma, o Romero Britto ajudar alguém a interessar-se mais por outras artes, então faço as pazes com ele.

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